O que acontece quando um homem decide viver piedosamente e pregar o verdadeiro evangelho no meio de um cristianismo cheio de decadência e iniquidade.
1. Um Homem Comum, Mas Sonhador
A.Infância Pobre
John Huss (1369-1415) foi um homem de origem simples. Nasceu no
vilarejo de Hussinecz, sul da Boêmia. Seus pais eram camponeses. Sua
mãe, muito religiosa, quis que o filho fosse sacerdote. Mais tarde, Huss
admitiu ter iniciado a carreira religiosa pelo dinheiro e prestígio que
ela dava, mas seu interesse por Deus veio quando ele começou a estudar
mais profundamente.
B. Aluno Médio
Huss não foi um aluno
brilhante, mas parecia determinado a estudar e crescer. Assim, formou-se
na universidade, tornou-se Mestre e dirigente da Capela de Belém, em
Praga, cidade importante em seu país. Nesta Igreja, Huss pregava na
língua do povo. Nas outras, o serviço religioso era feito em latim.
C. Pastor Preocupado
Huss foi um pastor dedicado. Sua preocupação era agradar a Deus com uma
vida santa e prover sólida alimentação espiritual ao povo. Criticava
duramente os líderes da Igreja por usarem seus ofícios em benefício
próprio, vivendo no conforto e na imoralidade. Para Huss, a autoridade
de um líder religioso vinha do seu caráter e não da sua posição.
Huss insistia que o povo deveria viver em total dependência de Deus, numa vida simples e consagrada ao trabalho.
Deus sempre levanta homens simples que sonham em ver a verdade de Deus
como luz e guia dos homens. Muitos jovens, homens e mulheres de hoje
buscam realizar seu sonho pessoal ou projeto de vida, mas poucos estão
dispostos a abraçar o projeto de Deus e lutar contra o erro e o engano. É
sobre isso que tratamos no próximo ponto.
2. Um Homem que Enfrentou a Oposição em Nome da Verdade
A. Deus Agindo na História
Deus é soberano. Ele é Senhor da história. Age na história e a dirige
segundo a sua vontade. Aquele filho de camponeses foi ferramenta
importante. Pela providencia de Deus, Huss fora colocado como o
dirigente da Capela de Belém, na importante cidade de praga. A rainha
Zofie costumava freqüentar aquela igreja. Ela era esposa do rei Václav
da Boêmia. Zofie influenciou o rei para que facilitasse as reformas
pretendidas por Huss. Com isso, a reforma cresceu, tendo Huss como líder
e o Rei como escudo contra as investidas do papa.
B. Coragem para Estabelecer a Verdade
Apesar da cobertura do Rei, surge no cenário o Arcebispo de praga,
chamado Zbynek, um ex-militar e agora superior de Huss. Um estrategista,
que usou de sus recursos financeiros e políticos para obter este
poderoso cargo no arcebispo de Praga. Zbynek não teve qualquer preparo
teológico ou formação eclesiástica. A missão dele era a de erradicar a
heresias de Wycliff naquela região e com isso ganhar favores do papa.
Zbynek tornou-se grande inimigo da causa reformista de Huss.
C. Radicalismo ou Fidelidade a Deus?
Huss, influenciado pelos escritores de John Wycliff, tornava-se cada
vez mais um apaixonado pela reforma da Igreja de Jesus Cristo. Começa
então a andar em terreno perigoso. Em 1405 declara que a suposta
aparição do sangue de Cristo nos elementos da comunhão não passava de
embuste. Em seus sermões, condenava o pecado dos padres, bispos e
arcebispos. Declarava que os crentes tinham o mesmo direito que os
sacerdotes de participarem do cálice na ceia, e não somente do pão.
Ridicularizava o pretenso poder dos sacerdotes de concederem o Espírito
Santo a uma pessoa ou mandarem-na para o inferno.
Foram muitas e
duras as críticas expostas por Huss do púlpito de sua igreja e da tinha
de sua pena. Huss via a Igreja de Cristo em uma situação de clamidade e
não pôde se conter diante de tantas irregularidades.
Conseqüentemente a liderança da Igreja começou a reagir. Zbynek ficou
enfurecido ao saber que muitos pregadores, seguidores de Huss, acusavam
Zbynek de simonia (venda de milagres) e imoralidade. Zbynek resolveu
calá-los prendendo-os. Entretanto, Huss respondeu: “Como pode haver
sacerdotes imorais e criminosos andando pelas ruas livremente, enquanto
que os humildes homens de Deus estão enjaulados como hereges e sofrendo
privações por causa da proclamação do Evangelho?”¹
O arcebispo Zbynek passou a enviar espias à igreja de Huss para ouvirem seus sermões. Huss sabia disso, mas não se intimidava.
Com a força do Espírito de Deus Huss tornou-se um gigante em plena
Idade Média. Huss enfrentou o poder corrupto dentro de sua própria
igreja e não temeu. Seu única temor era reservado àquele que é Senhor
da Igreja e da História. Ao constatarmos isso podemos perceber quão
omissos somos nós hoje!. Diante de corrupção, da violência e injustiça
que verificamos em nossos dias, a coragem e audácia de John Huss não
deveria nos mover em favor do reino de Deus?
3.Um Homem que Perdeu a Batalha, Não a Guerra
A.Uma Cilada para John Huss
Huss recebeu ordens do próprio papa para se cala, mas não se calou. Em
1412, o papa João XXIII proclamou uma cruzada contra o rei Nápoles, que
tornara-se rebelde. Para levantar fundos contra a guerra, o papa
institui a venda de indulgências (perdão) em larga escala por todo o
império. Huss ficou horrorizado com isso e declarou: “mesmo que o fogo
para queimar o meu corpo seja colocado diante dos meus olhos, eu não
obedecerei”. E ainda, diante de grande pressão, declarou: “Ficarei em
silêncio? Deus não permita! Ai de mim, se me calar. É melhor morrer, do
que não me opor diante desta impiedade, o que me faria participante da
culpa e do inferno.” Excomungado já quatro vezes, Huss resolveu
exilar-se voluntariamente, para que sua igreja não privada das
ministrações. Foi para o sul da Boêmia, onde escreveu livro e pregou em
alguns vilarejos. Dois anos depois, o papa convocou um concílio em
Constança e convidou Huss. Depois de receber garantias do imperador da
Boêmia, Sigismund, meio irmão do rei Václav, que prometeu conceder-lhe
salvo conduto enquanto estivesse em Constança, Huss aceitou o convite.
Na segunda semana que estava em Constança, Huss foi preso e ficou nesta
condição vários meses enquanto o Concílio prosseguia.
B. Uma Triste Ironia
Huss sofria amargamente numa prisão onde hoje se encontra um luxuoso
hotel. As condições na sela eram tão precárias que Huss ficou seriamente
enfermo e quase morreu. Nenhuma oportunidade de defesa lhe foi dada.
C. A Morte de Huss
Finalmente Huss foi chamado ao Concílio. Advertiram: “Reconsidere seus
escritos, ou morre”. Huss não voltou atrás. Então, rasgaram suas vestes e
colocaram em sua cabeça uma mitra de papel com 3 demônios desenhados e
escrito “Eis um herege”. Acompanhado por uma multidão, Huss, amarrado e
puxado pela ruas de Constança foi ao local de sua morte.
Na presença
de homens, mulheres, velhos e crianças, Huss foi amarrado numa estaca e
lhe deram mais um oportunidade para rever seu ensino. Mas em um grito
respondeu: “Deus é minha testemunha de que a principal intenção foi tão
somente libertar os homens de seus pecados e baseado na verdade do
Evangelho que preguei e ensineu, estou realmente feliz em morrer hoje.”
Com estas palavras um sinal foi dado ao executor que acendeu a fogueira.
Por entre chamas e fumaças Huss entoou uma melodia “Jesus, Filho do
Deus vivo, tem misericórdia de mim.” Huss morreu cantando.
Huss
enfrentou pressões terríveis. Poderia viver uma vida confortável,
desfrutando de seu status de mestre e líder religioso, mas, com Moisés,
“preferiu ser maltratado... a usufruir os prazeres transitórios de
pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas
do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão” (Hb
11.25,26).
Conclusão
Apesar de morto, John Huss não foi
derrotado. Deixou um legado para a causa da Reforma Protestante que
surgiria décadas depois, com Martinho Lutero. Tanto Wycliff como Huss
foram sementes semeadas a seu tempo, que brotaram anos mais tarde, cujos
frutos colhemos ainda hoje.
Que possamos, como verdadeiros cristão,
defender a verdade do Evangelho e, se preciso for, assim como John
Huss, morrer por ela.
Nota
¹ Revista Church History, p. 13.
Autor: Dráusio Piratininga Gonçalves
Fonte: revista Palavra Viva – Graça e Fé, pg 9-12, Editora Cultura Cristã.
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