quinta-feira, 19 de março de 2015

Sobre que pedra a Igreja é edificada?

Pois também Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". (Mateus 16:18)

Alguns grupos cristãos usam esse versículo para afirmar que Pedro é a pedra fundamental sobra a qual a Igreja seria edificada. Todavia, quando verificamos as palavras gregas originais encontramos uma grande diferença:

“Tu és PETRUS...” – Um fragmento de pedra.


e...

“Sobre esta PETRA” – Uma rocha firme; uma massa de rocha.

edificarei Minha Igreja...

Em outras palavras, Pedro é um fragmento de pedra edificado sobre a massa rochosa, que é a confissão em Cristo relatada no verso 16. Seria muito estranho que o fundamento da Igreja (petrus) fosse apenas um “fragmento” de pedra, e não uma massa rochosa. Fundamentos não são e nunca foram apenas “pedaços” de pedra! Fundamentos são massas firmes e inabaláveis de rocha. O fundamento é o próprio Cristo Jesus (1Co.3:11).

Corte uma rocha em pedaços, que você tem um petrus. Conserve uma massa rochosa inabalável, e você terá uma petra! É óbvio, então, que Cristo estava se
referindo a duas coisas diferentes, como o próprio léxico da Concordância nominal de Strong atesta e confirma tal distinção:

kagw de soi legw oti su ei petroV kai epi tauth th petra oikodomhsw mou thn ekklhsian kai pulai adou ou katiscusousin authV - Mateus 16,18

πετρος Petros

-Aparentemente, palavra primária; um pedaço de rocha; como um nome, Petrus, um apóstolo: Pedro.

πετρα petra

-Feminino da Petrov – Petrus, uma massa de rocha, literalmente ou figurativamente.

Está aí acima o original grego, com as definições em seguida de acordo com o dicionário grego e hebraico de Strong, o mais reconhecido léxico grego de todos os tempos. Dito em termos simples, Jesus disse a Pedro:

O fato é que Jesus não estava rebaixando o nível de Pedro. Pelo contrário, ele estava reconhecendo Pedro como um pedaço de Pedra importante na Igreja, que estava edificada sobre uma pedra maior, uma massa de rocha inabalável, como o fundamento da Igreja, que é o próprio Cristo que ele havia confessado (v.16).

Além disso, vale ressaltar também o fato de que petrus é uma palavra que está no masculino, enquanto que petra é uma palavra que está no feminino. Portanto, ou Cristo estava se referindo a Pedro no feminino (o que seria um total absurdo, já que Pedro era homem!), ou então a referência dele era sobre A (feminino) confissão dele no v.16, e não sobre O (masculino) próprio Pedro, pessoalmente.

Ademais, vale ressaltar também que no original grego a palavra petra é um feminino singular e está na terceira pessoa, enquanto que petrus é um masculino plural e está na segunda pessoa. Essas diferenças são marcantes no grego e eliminam por completo as chances católicas da pedra ser o próprio Pedro, e fizeram com que os Pais da Igreja (a exemplo de Agostinho) percebessem que a pedra é a confissão em Cristo e não Pedro. Porém, quando transliterado para o português, essas diferenças marcantes são omitidas, o que deixa a interpretação católica menos insustentável.

Por exemplo, quando analisamos o texto em português, absolutamente não há nenhum problema em ligar Pedro à “pedra”:
“...tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja...”

Porém, os escritores bíblicos escreveram no grego, e não no português! E, em grego, há uma total discordância entre uma sentença e outra. De fato, a des-ligação e o contraste é tão forte que somente alguém com sérios problemas pode afirmar que uma coisa é exatamente a referência à outra, à luz de todas as diferenças:
“...tu és petrus [fragmento de pedra, masculino plural, segunda pessoa], e sobre esta petra [rocha inabalável, feminino singular, terceira pessoa] edificarei a minha Igreja...”

Dá para ver claramente como uma coisa não tem nada a ver com a outra. Tente misturar um masculino plural em segunda pessoa com um feminino singular em terceira pessoa para ver que “ligação” acontece! E, ainda por cima, junte isso ao fato de que um tem um significado diferente do outro! É evidente que, como atesta os Pais da Igreja e em especial Agostinho, a “pedra” é a revelação de Pedro acerca do próprio Cristo, que é o fundamento da Igreja.
Quando contextualizamos a passagem e mostramos as diferenças marcantes no original grego, as pretensões católicas são simplesmente aniquiladas. Tanto é verdade que os outros evangelhos simplesmente omitem o verso 18 que os católicos tanto gostam, por já estar claro e auto-evidente que é no verso 16 que está toda a chave e revelação (a “pedra de revelação”) do texto. Vejamos o que dizem Marcos e Lucas:

Marcos 8
8:27 E saiu Jesus, e os seus discípulos, para as aldeias de Cesaréia de Filipe; e no caminho perguntou aos seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou?
8:28 E eles responderam: João o Batista; e outros: Elias; mas outros: Um dos profetas.
8:29 E ele lhes disse: Mas vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, lhe disse: Tu és o Cristo.
8:30 E admoestou-os, para que a ninguém dissessem aquilo dele.

Lucas 9
9:18 E aconteceu que, estando ele só, orando, estavam com ele os discípulos; e perguntou-lhes, dizendo: Quem diz a multidão que eu sou?
9:19 E, respondendo eles, disseram: João o Batista; outros, Elias, e outros que um dos antigos profetas ressuscitou.
9:20 E disse-lhes: E vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, disse: O Cristo de Deus.
9:21 E, admoestando-os, mandou que a ninguém referissem isso,
9:22 Dizendo: É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, e seja rejeitado dos anciãos e dos escribas, e seja morto, e ressuscite ao terceiro dia.

Note que nem Lucas nem Marcos fazem qualquer citação do verso 18 encontrado em Mateus. Por que eles simplesmente omitem a sequencia? Porque o mais importante do texto não está em Pedro (v.18), mas na sua confissão de fé (v.16). Por isso, eles citam o v.16 de Mateus, sem mencionar a sua continuação, pois a petra de revelação já havia sido mencionada em ambos os casos. Mas se a pedra fosse o próprio Pedro, então isso significaria que os dois evangelistas “se esqueceram” de relatar exatamente o mais importante da passagem!

Isso significaria que eles simplesmente omitiram do público o tema principal da passagem (que seria a Igreja edificada sobre Pedro, conforme dizem os católicos). É claro que os evangelistas não iriam se rebaixar a tal ponto de omitirem o ponto fundamental da fé. Eles transcreveram o verso 16 de Mateus porque aquilo já era o suficiente para sabermos que a pedra era “Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt.16:16). E o próprio Mateus faz questão de diferenciar as sentenças (como mostradas acima), para deixar claro que a pedra era aquilo que antes foi mencionado a respeito de Cristo (v.16), e não o próprio Pedro. Se a citação fosse a respeito de Pedro, a passagem ficaria assim:

“...tu és Pedro, e sobre ti edificarei a minha Igreja...”

Se a pedra fosse Pedro, Jesus teria simplesmente deixado isso claro desta maneira (“sobre ti”), e não lançado mão do contraste entre petrus e petra. Ora, o próprio Jesus fazia isso de diversas maneiras, como quando disse a respeito de Jerusalém nas seguintes palavras:

“Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todos os lado” (Lucas 19:43)

No original grego está assim:
“oti hxousin hmerai epi se kai peribalousin oi ecqroi sou caraka soi kai perikuklwsousin se kai sunexousin se pantoqen” – Lucas 19:43.

Este “epi se” é o equivalente a “sobre ti”. Seguindo essa mesma lógica, Cristo poderia se referir a Pedro da mesma forma que fez com Jerusalém, sem rodeios e nem jogo de palavras, desta maneira:
“...tu és Pedro, e sobre ti [epi se] edificarei a minha Igreja...”

Porém, não foi isso o que Cristo fez. Ele lançou mão da diferença entre petrus e petra, pois a revelação de Pedro a respeito de Cristo é exata, pois ele é o único fundamento da Igreja (1Co.3:11). Pedro é relatado como sendo uma coluna, e não o próprio fundamento:

“Reconhecendo a graça que me fora concedida, Tiago, Pedro e João, tidos como colunas, estenderam a mão direita a mim e a Barnabé em sinal de comunhão. Eles concordaram em que devíamos nos dirigir aos gentios, e eles, aos circuncisos” (Gálatas 2:9)

Note que Pedro (assim como Tiago e João) era coluna da Igreja, e não o fundamento dela! Se o texto de Mateus 16.18 deve ser interpretado erroneamente e sem exegese da maneira que os católicos fazem, então teríamos a Igreja edificada sobre Pedro (o fundamento), e não Pedro estando edificado sobre o fundamento! Se os católicos ainda não sabem, as “colunas” eram edificadas sobre o fundamento, e não o fundamento sobre as colunas!

“Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Coríntios 3:11)

Portanto, Jesus é o ÚNICO FUNDAMENTO e ao mesmo tempo é a pedra angular. A figura montada pelo católico é simplesmente absurda e herética, pois mostra Pedro como sendo o fundamento e Jesus edificado sobre Pedro. Além do fato disso ser uma terrível heresia à luz de 1Cor.3:11, isso também levaria a crer que Pedro é superior a Jesus, pois não é Pedro que está edificado sobre Cristo, mas Cristo sobre Pedro!

Já imaginou no que daria um absurdo desses? Isso significaria que Jesus é dependente de Pedro, assim como a pedra angular é dependente do fundamento. Se Pedro é o fundamento da Igreja e Jesus está sobre ele, então é Jesus que está dependente de Pedro, e não o contrário!

Isso é um absurdo, uma heresia, uma blasfemia! O próprio Pedro declarou que a pedra em questão era Jesus (1Pe.2:4), e que ele (como os demais cristãos) eram “pedras vivas” edificadas sobre a pedra principal (1Pe.2:4-6).

Em resumo, se alguém quiser contestar este estudo, terá primeiramente que:
1. Mostrar que sabe mais de grego do que o santo e doutor da Igreja, Agostinho (bispo de Hipona), o principal da sua época e que afirmava abertamente que era Cristo e não Pedro a “pedra” em questão em Mt.16:18, tendo como base o original grego para as suas formulações.
2. Mostrar como alguém pode ser um “fragmento de pedra” (petrus) e ao mesmo tempo ser uma rocha grande e inabalável (petra).
3. Mostrar como um substantivo masculino (petrus) pode estar relacionado a um substantivo feminino (petra), e também por que Jesus teria se referido a Pedro no feminino quando poderia simplesmente evitar os problemas e aplicar o “epi se” (“sobre ti”).
4. Me mostrar como um masculino plural em segunda pessoa pode estar diretamente relacionado a um feminino singular em terceira pessoa como sendo exatamente a mesma coisa!
5. Me mostrar como que Pedro era considerado “coluna” na Igreja (Gl.2:9), se os católicos dizem que ele era a pedra fundamental sobre a qual a Igreja estava edificada (i.e, como que Pedro era uma coluna edificada sobre o fundamento quando na verdade ele deveria ser o próprio fundamento e os outros estarem edificados sobre ele!).
6. Me mostrar como que Pedro pode “dividir” a tarefa de pedra fundamental com Jesus, sendo que Paulo declarou categoricamente que Cristo é o único fundamento e que ninguém pode ser posto além dele (1Co.3:11).
7. Me mostrar por que os outros evangelistas (Marcos e Lucas) sequer se preocupam em mencionar o verso 18 de Mateus 16 (mas apenas citam o v.16), sendo que para os católicos a “pedra” está encontrada exatamente no v.18 que está omitido, e não no verso 16 que é mostrado!
8. Me explicar o porquê que Jesus disse várias vezes “sobre ti” [epi se], quando aplicado à própria pessoa, coisa ou cidade a qual ele diretamente se referia, mas quando é com Pedro ele não fala “sobre ti” [epi se], mas sobre uma pedra maior e inabalável (petra) do que o que havia sido referido antes (petrus).

Enfim, vou deixar só essas daqui por enquanto, para os defensores de Pedro ser a rocha fundamental não quebrarem muito a cabeça respondendo a todas essas questões. Afinal, um grupo que não sabe nem sequer a diferença entre “fundamento” e “coluna” certamente não vai ter a mínima ideia de resposta a qualquer uma dessas questões...
Em Cristo,

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Por: Lucas Banzoli (artigo de 17/12/2011).


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